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PSICÓLOGO vs PSIQUIATRA


"As propostas da psiquiatria e da psicologia são bastante diferentes."


A Psicologia e a Psiquiatria são áreas do saber fundadas em campos de preocupações diferentes. Desde Wundt, a Psicologia tem seu objeto de estudo marcado pela busca da compreensão do funcionamento da consciência, enquanto a Psiquiatria tem trabalhado para construir e catalogar um saber sobre a loucura, sobre a doença mental.


Os conhecimentos alcançados pela Psicologia permitiram realçar a existência de uma “normalidade”, bem como compreender os processos e o funcionamento psicológicos, não assumindo compromisso com o patológico.


A Psiquiatria, por sua vez, desenvolveu uma sistematização do conhecimento e, mais precisamente, dos aspectos e do funcionamento psicológicos que se desviavam de uma normalidade, sendo entendidos e significados socialmente como patológicos, como doenças.


De certa forma, poderíamos dizer, correndo o risco de um certo exagero ou reducionismo, que, enquanto a Psiquiatria se constitui como um saber da doença mental ou psicológica, a Psicologia tornou-se um saber sobre o funcionamento mental ou psicológico.


O médico Sigmund Freud, com suas teorizações, foi responsável pela aproximação entre essas duas áreas por ter dado continuidade ao funcionamento normal e patológico. Freud postulou que o patológico não era mais do que uma exacerbação do funcionamento normal, ou seja, uma exacerbação entre o que era normal e doentio no mundo psíquico, ocorrendo apenas uma diferença de grau. Com isso, as duas áreas estavam articuladas e as respectivas práticas se assemelharam e se aproximaram muito, a ponto de estarmos aqui ocupando este espaço para esclarecermos a você as diferenças entre elas.


Mas se Freud aproximou esses saberes em suas preocupações, a década de 50, no século 20, traria o desenvolvimento da psicofarmacologia, o qual foi responsável por uma retomada das bases biológicas e orgânicas da Psiquiatria, tributária dos métodos e das técnicas da Medicina. Assim, ocorreu um novo distanciamento entre a Psicologia e a Psiquiatria, sobretudo em relação aos métodos e técnicas de intervenção utilizados por estas duas especialidades profissionais. A Psicologia deu continuidade à expansão de seus conhecimentos por outros campos, sempre marcada pela busca da compreensão dos processos de funcionamento do mundo psicológico, dedicando-se a processos, como o da aprendizagem, o dos condicionamentos, o da relação entre os comportamentos e as relações sociais, ou entre os comportamentos e o meio ambiente, o do mundo afetivo, o das diversas possibilidades humanas; enfim, centrou-se nos variados aspectos que foram sendo apontados como constitutivos do mundo subjetivo, do mundo psicológico do homem.


As fronteiras entre a Psicologia e a Psiquiatria, excetuando-se as práticas profissionais farmacológicas, tendem a diminuir no campo profissional no que diz respeito às intervenções nos processos patológicos da subjetividade humana. Os afazeres desses profissionais realmente se aproximam muito. Os psiquiatras têm buscado muitos conhecimentos e técnicas na Psicologia, e os psicólogos têm se dedicado mais à compreensão das patologias para qualificar seus afazeres profissionais. Quando se toma, especificamente, a patologia, a loucura, a doença mental ou os distúrbios psicológicos como temas ou objetos de trabalho, os pontos de contato dessas áreas são muitos e o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar tem sido a meta de ambos os profissionais. Mas, se sairmos desse campo e entrarmos no campo da “normalidade”, da saúde, do desenvolvimento, os psicólogos aparecerão acompanhados de outros profissionais, como os assistentes sociais, os pedagogos, os administradores, os sociólogos, os antropólogos e outros mais. Neste campo, as possibilidades teóricas e técnicas da Psicologia são outras: intervenções nas relações sociais e nas relações institucionais; desenvolvimento de trabalhos em Educação e de programas de intervenção no trânsito, nos esportes, nas questões jurídicas, em projetos de urbanização, nas artes; enfim, a Psicologia pretende contribuir com a promoção da saúde.


Apesar do psicólogo não oferecer um tratamento medicamentoso não se pode deixar de olhar cuidadosamente para esta questão. Quando o profissional percebe a necessidade de acompanhamento médico é feito, imediatamente, o encaminhamento. O paciente pode dar inicio ao trabalho com o psicoterapeuta para que este faça uma avaliação da necessidade das consultas psiquiátricas.



É bastante interessante que o trabalho seja feito em conjunto: psicólogo e psiquiatra. Cada profissional pode oferecer seu saber para que o caso tenha uma excelente evolução.



As propostas da psiquiatria e da psicologia são bastante diferentes. Esta se propõe a compreender os sintomas, entender suas causas e elaborar possibilidades de lidar com eles. Algumas vezes o uso de remédios, como os antidepressivos ou ansiolíticos, interferem neste processo. O paciente “extermina” sua dor com a droga e torna-se “cego” para olhar para seus conflitos. Desta forma, o psicólogo precisa ter muita sensibilidade para perceber quando, realmente, precisa-se de medicação.



O oposto também é verdadeiro: um paciente em extremo sofrimento também não consegue observar-se com clareza. Assim, os medicamentos se fazem muito necessários dependendo do caso.



Imaginem um incêndio. Os remédios podem apagar este fogo mas podem deixar brasas. A terapia se propõe a descobrir as causas deste incêndio (e trata-las) para que, quando o vento vier, não acenda as chamas novamente. Quero dizer com isso que a medicação pode resolver os sintomas a curto prazo porém quando o paciente para o tratamento ou quando uma experiência no futuro “ativa” o que não foi trabalhado em uma análise, os sintomas retornam.




Fonte: BOCK, A.M.B. et all. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13ed. São Paulo: Saraiva, 2000


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