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PSICOSSOMÁTICA - O QUE É ISSO


"Os sintomas da doença psicossomática refletem perturbações fisiológicas associadas com danos aos tecidos e dor; uma úlcera péptica causada pelo estresse é indiferenciável de uma úlcera causada por um fator não ligado ao estresse, tal como uso maciço de aspirina a longo prazo".

Evolução Histórica do Conceito


O termo psicossomática surgiu depois de séculos de estruturação, quando Heinroth criou as expressões psicossomática (1818) (Kaplan, 1997).

Esta ideia pode ser sustentada no pensamento de Kaplan:

“Representantes tanto da psiquiatria quanto da medicina chegaram a um consenso, há mais de cem anos, de que, em alguns transtornos, as atividades emocional e somática se sobrepõem. Esses transtornos foram chamados de psicossomáticos pela primeira vez por Johan Christiam Heinroth, em 1818, quando usou o termo com relação à insônia. A palavra foi popularizada, posteriormente, pelo psiquiatra alemão Maximilian Jacobi. O número de transtornos identificados como psicossomáticos ampliou-se, incluindo colite ulcerativa, úlcera péptica, enxaqueca, asma brônquica e artrite reumatoide". (Kaplan, 1997:706)

De acordo com Marty (1993), distinta da medicina, distinta também da psicanálise de qual procede, e cujo campo de interesse amplia, a psicossomática hoje constitui uma disciplina em si. Sua especificidade reside nas respostas que traz ao velho debate sobre a unidade fundamental do ser humano, abordando esse problema através da dialética das relações que um indivíduo, em sua totalidade psíquica, biológica, histórica e social mantém, tanto consigo mesmo quanto com os outros, a psicossomática oferece uma concepção coerente e objetiva dos fenômenos de somatização.


Precursores Contribuições da Psicanálise


Segundo Marty (1993) no final do século XIX, um neurologista vienense, S. Freud, a partir de trabalhos sobre paralisias, a afasia e a histeria, descobre a realidade dinâmica do inconsciente e cria a psicanálise.

A revolução psicanalítica vai permitir o estabelecimento dos princípios econômicos, psicodinâmicos e genéticos que governam e organizam a unidade psicossomática de um indivíduo. Ainda que Freud não tenha se interessado de modo particular pela psicossomática, parece ter sido seu investigador.

Os sintomas da histeria são o resultado da transformação, da "conversão" de uma explicação endógena em inervação somática, é a partir dos trabalhos sobre a histeria que os problemas do "psicossomatismo" começam a aparecer (Marty, 1993).

A partir de observações revelando situações que não se encaixavam nem no quadro das "conversões histéricas", nem do das "neuroses atuais", psicanalistas da Sociedade psicanalítica de Paris, acompanhados por L. Kreisler, formaram um grupo de reflexão e de pesquisa. Sob o impulso de P. Marty, criaram a Escola de psicossomática de Paris. Lá, a psicossomática adquiriu autonomia e acedeu status de disciplina científica (Marty, 1993).

A psicossomática e a psicanálise encontram-se estreitamente ligadas, mas não se confundem. Em sua forma atual, a psicossomática provém diretamente da psicanálise. Suas orientações e suas descobertas importantes são resultados do trabalho de psicanalistas clássicos interessados pelos pacientes somáticos. O método, o estilo, o sentido geral do estudo psicossomático modelam-se sobre os da psicanálise (Marty, 1993).

Em seu conjunto e até em suas mais altas instâncias interacionais, as associações de psicanalistas freudianos ajudaram no desenvolvimento do movimento psicossomático em quase todo o mundo. Contudo, a posição pessoal dos psicanalistas clássicos acerca da psicossomática varia. A maioria considera a psicossomática como uma vizinha de sua casa. Outros se mostram abertamente satisfeitos com a penetração ainda mais profunda da psicanálise no domínio das ciências humanas (Marty, 1993).

A psicanálise, ponto de partida da psicossomática, representa sempre sua referencia essencial. Em compensação, a psicossomática contribui para o enriquecimento da psicanálise e dos psicanalistas, por inúmeras razões, como, por exemplo: a noção de mentalização; as neuroses de comportamento; os mecanismos das fixações e das regressões; etc. (Marty, 1993).

A psicossomática não é uma especialidade médica, seu ponto de vista se dirige a todos os setores da medicina. Trabalhando juntas, a psicossomática e a medicina não podem ficar agora demasiado afastadas, uma da outra, sem sair perdendo (Marty, 1993).

De acordo com o Compêndio de psiquiatria a medicina psicossomática salienta a unidade e interação entre mente e corpo. Em geral, a convicção é de que os fatores psicológicos são importantes no desenvolvimento de todas as doenças. Os estudiosos ainda debatem se o papel está na iniciação, progresso, agravamento ou exacerbação de uma doença ou na predisposição ou reação à doença, e este debate varia, de uma para outra doença.


A Explicação Biológica e Neurofisiológica em Psicossomática


Atkinson e Atkinson (1995) definem transtornos psicossomáticos como transtornos físicos nos quais as emoções supostamente exercem um papel central. O termo “psicossomático” vem das palavras gregas psyche (“mente”) e soma (“corpo”).

Levando por diante o pensamento de Atkinson e Atkinson (1995), um engano comum é presumir que as pessoas com transtornos psicossomáticos não estão realmente doentes e não necessitam de atenção médica. Pelo contrário, os sintomas da doença psicossomática refletem perturbações fisiológicas associadas com danos aos tecidos e dor; uma úlcera péptica causada pelo estresse é indiferenciável de uma úlcera causada por um fator não ligado ao estresse, tal como uso maciço de aspirina a longo prazo.

As tentativas para a adaptação à presença contínua de um fator de estresse podem esgotar os recursos do corpo e torná-lo mais vulnerável à doença. O estresse crônico pode levar a transtornos físicos tais como úlceras, alta pressão sanguínea e doença cardíaca. Ele também pode prejudicar o sistema imunológico, diminuindo a capacidade do organismo para combater as bactérias e vírus invasores. (Atkinson & Atkinson; Smith; Bem, 1995).

Os critérios diagnósticos do DSM-IV para fatores psicológicos que afetam a condição médica (isto é, transtornos psicossomáticos) especificam que os fatores psicológicos afetam adversamente a condição médica do paciente em uma de várias maneiras (Kaplan, 1197).

De acordo com Kaplan um evento ou situação de vida estressante (interno ou externo, agudo ou crônico) gera desafios aos quais o organismo não consegue responder adequadamente.

As emoções, que podem ser a alegria, o medo, a ansiedade, a raiva, entre muitas outras coisas, determinam sempre alguma reação orgânica, ou seja, todo o organismo percebe as emoções. Além das repercussões das emoções sobre o comportamento, não obstante, elas podem ter um importante papel no bem estar emocional e orgânico (Neto & Ballone & Ortolani, 2002).

Pelo lado das influências físicas, as emoções atuam diretamente no chamado eixo hipotálamo-hipofisário, como preferem alguns autores, no aspecto psico-neuro-endócrino. Esse sistema psico-neuro-endócrino é o principal mecanismo através do qual o organismo humano mantenha as condições necessárias à sobrevivência. Essa condição recebe o nome de homeostasia. (Neto & Ballone & Ortolani, 2002).

De acordo com Neto, Ballone e Ortolani, (2002) acredita-se atualmente, que transtornos psicossomáticos ou psicofisiológicos, sejam o reflexo de uma ruptura na homeostasia corporal, resultando em toda sorte de sintomas.

Dores de cabeça, das costas, algumas arritmias cardíacas, tipos de hipertensão arterial, entre tantas outras doenças, podem ser produzidas por uma excessiva ativação das respostas fisiológicas, e consequentemente, ruptura da homeostasia do órgão ou do sistema que sofre (cardiovascular, respiratório, etc). Seria uma espécie de disfunção do órgão ou do sistema orgânico por responder em excesso e/ou por muito tempo à sobrecarga emocional (Neto & Ballone & Ortolani, 2002:64).


O adoecer é composto por três fases que seguem abaixo:


A primeira fase do adoecer chama-se de TENSÃO EMOCIONAL que apresenta os três componentes da emoção:

  • Psicológico – onde ocorre o mal sentir / mal pensar, ou seja, existe um tipo muito pessoal de sofrimento na esfera emocional, algo difícil de explicar, mas que existe no âmago da pessoa como: “sentimento de abandono e desvalimento”, “sentimento de culpa”, “sentimento de inferioridade”, “tristeza intensa”, ou “algo estranho que não sei bem explicar”, entre outros. Este sofrimento acaba por desencadear as alterações funcionais que sempre fazem parte do processo de adoecer.

  • Fisiológico – onde pode ocorrer disfunção motora (vômitos, diarreia, obstipação, dismenorréia, hipertensão arterial,, enxaqueca...), disfunção secretora (secreções endócrinas e digestivas), disfunção da irrigação e coagulação (hemorragias, ulcerações).

  • Social – onde pode ser revelado pelo ato de isolar-se, pela menos produtividade no trabalho, etc.

A Segunda fase do adoecer ocorre se a necessidade ainda não tiver sido satisfeita ou o conflito ainda não tiver sido solucionado. É chamada de DISTÚRBIO FUNCIONAL ou ALTERAÇÃO HUMORAL, onde ocorrem as mesmas alterações fisiológicas da primeira só que em maior intensidade.

Nestas duas primeiras fases não há alterações nos exames laboratoriais, levando muitas vezes a indagação do paciente “como os exames estão normais se me sinto tão mal?!”.


A Terceira fase do adoecer surge devido a diversas supressões de sintomas (efeitos) sem que se tenha resolvido de fato seu desequilíbrio interno (causa). Com repetição dos distúrbios humorais acaba por ocorrer a ALTERAÇÃO CELULAR, onde já existem comprometimentos do equilíbrio celular, havendo, portanto alterações laboratoriais.


A Quarta fase é denominada DOENÇA ANATÔMICA ou de DESTRUIÇÃO CELULAR, ocorrendo doenças inflamatórias crônicas, auto-imunes, ulcerativas, necróticas, tumorais, já havendo complicações sérias do tipo infecção secundária, hemorragias, etc.

Para que haja doença faz-se necessário a presença de fatores predisponentes e desencadeantes atuando juntos na mesma pessoa.


O fator predisponente pode ser constitucional (natureza genética com transmissão através da herança cromossômica) ou adquirido (resultante do meio familiar e sócio cultural sobre a personalidade modelando-a).

Cada indivíduo tem uma predisposição mórbida, congênita ou adquirida, que representa a maneira peculiar dos tecidos reagirem frente a estímulos externos.

Os caracteres anatômicos e funcionais da constituição, embora sejam determinados pela hereditariedade, podem ser alterados por fatores modificadores do meio ambiente, podendo-se dizer que a constituição é a resultante fenotípica do genótipo individual. Ou seja, não basta ter uma determinada alteração genética, porque a ela é preciso se associar um fator desencadeante para que haja doença.


Os fatores desencadeantes estão relacionados ao estilo de vida do indivíduo e às condições do meio ambiente.

Quanto ao estilo de vida pode-se observar o hábito alimentar, consumo de álcool ou de fumo, tipo e duração de trabalho, atividade física ou sedentarismo, quais são sua atividades de diversão, vida sexual, etc.

Portanto quando coexistirem fatores predisponentes e desencadeantes ocorrerá a doença, ou seja, ocorrerá um desequilíbrio interno gerando todas as fases do adoecer já relatadas anteriormente.


O fato real é que o psiquismo é fundamental na conservação da saúde e que o indivíduo adoece por “opção de vida”, mesmo que de forma inconsciente. Observem os seguintes fatores:

  • O indivíduo usaria a doença como fuga de seus conflitos internos. É o caso do rico fazendeiro que faz um “derrame cerebral” por não conseguir suportar uma crise financeira.

  • Quando existe incapacidade de pessoa em exprimir adequadamente suas emoções (inclusive agressividade), por dificuldade individual ou sócio-cultural. É o caso de um chefe de família sofrendo de conflitos internos, que por achar mais conveniente faz uma úlcera duodenal, por não encontrar espaço para sentir-se triste.

  • Desejo de auto-punição nas pessoas que se sentem culpadas e merecedoras de castigo. É comum que estas pessoas tenham sofrido cirurgias (mioma, cisto, vesícula biliar...)

  • Necessidade de ganhar atenção e cuidados especiais. Muito comum no idoso.

Existe no organismo de cada pessoa órgãos menos resistentes, que designa uma fragilidade genética em determinado ponto do organismo, que frente a alterações emocionais repetidas desencadeará alteração celular com posterior destruição deste órgão. Isto explica porque frente a um mesmo estresse uns apresentam infarto do miocárdio, e outros asma brônquica, câncer, etc.




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